February 12, 2011

Contos randoms

Era uma vez

O subir e o descer

O subir nunca teve muitos problemas. Teve uma boa infância, alguns amigos, não muito próximos, mas pessoas que podia passar o tempo sem se preocupar. Sempre olhando para cima, bastante otimista, acreditando que cada dia seria melhor que o outro. Se ficava triste, logo deixava pra lá e continuava alegre.
O descer teve uma vida meio complicada. Era um tanto solitário, e se sentia meio vazio. Suas expectativas eram altas e não condiziam com o que acontecia na realidade, mas as expectativas para suas próprias ações eram tão altas que desistia antes de tentar. Seu modo de viver era basicamente pessimista.

Um dia, enquanto subia, o subir encontrou uma pessoa, triste, quieta e sem alegria.
Um dia, enquanto descia, o descer encontrou uma pessoa, alegre, sorridente e bem disposta.
O subir se perguntou o que aquela pessoa tinha, e fez tudo o que podia para fazê-la se animar. O descer não entendia porque aquela pessoa estava gastando seu tempo com ele.

O subir não conseguia pensar em mais nada que pudesse animar o descer, que por sua vez pensava num modo de espantar o subir.
Sem mais o que fazer, o subir simplesmente sentou. De que adiantava tanta alegria se não conseguia dividí-la com os outros?
O descer viu sua chance de fugir daquela pessoa que atrapalhou sua solidão. Mas ele já havia se acostumado com aquela presença.

Eventualmente, o descer se sentou em frente ao subir.
Para não deixar o descer para trás, o subir não subia mais.
Para não se sentir solitário sem o subir, o descer parou de descer.
E lá eles ficaram.

Eventualmente, o subir perguntou ao descer o que eles deveriam fazer sobre essa situação.
O descer surgeriu, por mais que contrariasse seus sentimentos, que eles continuassem seus caminhos.
O subir, porém, se recusou a continuar sem pelo menos fazer o descer sorrir.
O descer não sabia como reagir, pois ninguém nunca tinha se importado com ele daquele jeito.

O subir perguntou se o descer gostaria de subir com ele.
O descer recusou, pois cada um tem seu papel, e o dele era descer.
O subir suspirou e reclamou sobre como o descer era difícil de lidar.
O descer cruzou os braços e respondeu que era assim que funcionava.

E assim o tempo passou.
O subir não acreditava que existia alguém tão teimoso.
O descer não acreditava que existia alguém tão teimoso.
Ficaram ali, sem subir nem descer, apenas esperando uma brecha do outro.

Eventualmente, o subir se cansou de tentar, e decidiu descansar. Se deitou e suspirou.
O descer estranhou o silêncio e se aproximou do subir, com medo de que algo tivesse acontecido.
O subir olhou para o descer e, sériamente, perguntou: "você me odeia"?
O descer estendeu a mão para o subir e disse, sorrindo: "é lógico que não."

O subir não queria mais subir, e o descer não queria mais descer.
Talvez, só talvez, ambos poderiam continuar naquele ponto de equilíbrio.
O subir surgeriu que, em vez de subir ou descer, que eles fossem em frente.
O descer aceitou, já que para isso ele não precisaria mudar seu rumo.

Ambos continuaram sempre andando em frente, lado a lado, vivendo juntos, sem parar para nada.
"Sabe... eu te amo."
"Eu também."
Mas talvez, para isso, eles pudessem parar um pouco...


São 4 da manhã... Eu não sei de onde isso saiu, mas escrevi anyway.

1 comment:

  1. Muito bom, me anima depois de um tempo de decepções. :3

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