O subir e o descer
O subir nunca teve muitos problemas. Teve uma boa infância, alguns amigos, não muito próximos, mas pessoas que podia passar o tempo sem se preocupar. Sempre olhando para cima, bastante otimista, acreditando que cada dia seria melhor que o outro. Se ficava triste, logo deixava pra lá e continuava alegre.
O descer teve uma vida meio complicada. Era um tanto solitário, e se sentia meio vazio. Suas expectativas eram altas e não condiziam com o que acontecia na realidade, mas as expectativas para suas próprias ações eram tão altas que desistia antes de tentar. Seu modo de viver era basicamente pessimista.
Um dia, enquanto subia, o subir encontrou uma pessoa, triste, quieta e sem alegria.
Um dia, enquanto descia, o descer encontrou uma pessoa, alegre, sorridente e bem disposta.
O subir se perguntou o que aquela pessoa tinha, e fez tudo o que podia para fazê-la se animar. O descer não entendia porque aquela pessoa estava gastando seu tempo com ele.
O subir não conseguia pensar em mais nada que pudesse animar o descer, que por sua vez pensava num modo de espantar o subir.
Sem mais o que fazer, o subir simplesmente sentou. De que adiantava tanta alegria se não conseguia dividí-la com os outros?
O descer viu sua chance de fugir daquela pessoa que atrapalhou sua solidão. Mas ele já havia se acostumado com aquela presença.
Eventualmente, o descer se sentou em frente ao subir.
Para não deixar o descer para trás, o subir não subia mais.
Para não se sentir solitário sem o subir, o descer parou de descer.
E lá eles ficaram.
Eventualmente, o subir perguntou ao descer o que eles deveriam fazer sobre essa situação.
O descer surgeriu, por mais que contrariasse seus sentimentos, que eles continuassem seus caminhos.
O subir, porém, se recusou a continuar sem pelo menos fazer o descer sorrir.
O descer não sabia como reagir, pois ninguém nunca tinha se importado com ele daquele jeito.
O subir perguntou se o descer gostaria de subir com ele.
O descer recusou, pois cada um tem seu papel, e o dele era descer.
O subir suspirou e reclamou sobre como o descer era difícil de lidar.
O descer cruzou os braços e respondeu que era assim que funcionava.
E assim o tempo passou.
O subir não acreditava que existia alguém tão teimoso.
O descer não acreditava que existia alguém tão teimoso.
Ficaram ali, sem subir nem descer, apenas esperando uma brecha do outro.
Eventualmente, o subir se cansou de tentar, e decidiu descansar. Se deitou e suspirou.
O descer estranhou o silêncio e se aproximou do subir, com medo de que algo tivesse acontecido.
O subir olhou para o descer e, sériamente, perguntou: "você me odeia"?
O descer estendeu a mão para o subir e disse, sorrindo: "é lógico que não."
O subir não queria mais subir, e o descer não queria mais descer.
Talvez, só talvez, ambos poderiam continuar naquele ponto de equilíbrio.
O subir surgeriu que, em vez de subir ou descer, que eles fossem em frente.
O descer aceitou, já que para isso ele não precisaria mudar seu rumo.
Ambos continuaram sempre andando em frente, lado a lado, vivendo juntos, sem parar para nada.
"Sabe... eu te amo."
"Eu também."
Mas talvez, para isso, eles pudessem parar um pouco...
Muito bom, me anima depois de um tempo de decepções. :3
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